segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Se um dia vieres, não digas!




Em cada encontro eu levava no peito a decisão de terminar aquele futuro em que não acreditava, mas de que não era capaz de abdicar. Tu dilatavas com ternura o tempo das promessas e e eu desistia, para me agarrar, de novo, a um devir incerto. 

- Gosto dos teus murmúrios, disse-te. Da música das palavras, mesmo que sem sentido - não sabia como perguntar-te ... - e há palavras lindas como partilha, ou .., 
- Pérgola, atalhaste, sorrindo como sorririas olhando a lua, ou o horizonte, ou o infinito, locais a que nunca quiseste pertencer.  

- Quando? perguntei-te!
- Não é ainda o tempo, retorquiste. Aguardemos o tempo das certezas.

E eu, com medo que a certeza viesse mas tu não, afundei-me no ninho do teu peito. 

Aguardei-te, então, sob a pérgola da esperança, como pediste. Vieste sempre só. Nem a certeza, nem o amor, nem a resposta! 

Ficavam sempre enganos, o pudor discreto da espera e o desalento. 

Na tua pérgola murcharam já as flores primaveris. Levou o vento as folhas neste Outono. Trouxe-me a chuva o cansaço de viver alcandorada em perplexidades e meias-palavras e em aparições fortuitas, à espera de uma decisão, de uma entrega, da clarificação de um «cheguei» ou «vou»! 

Sob a pérgola, apenas se mantém intacta a sombra dos nossos beijos, até que outros sombras, de outros teus beijos se lhes sobreponham.

Se vieres um dia para te explicar, não expliques. Deixou de ser urgente essa resposta.

Canto silenciosamente muitas palavras desde então: eflúvio, engano, larva, arbusto, seiva ... mas já não canto pérgola.

Por isso, não venhas, para não ter de dizer-te das palavras mais bonitas do que a tua. Como inefável! Foi essa que aprendi, olhando o orvalho sobre o chão no inverno de todas as mentiras, de um amor feito constante bizarria.

Lembrar como quem esquece é uma benção!  
Lídia Ponti



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