sábado, 1 de setembro de 2012
O amolador e as memórias no fio da faca
Chega-me da rua, às águas furtadas do meu prédio na cidade, Lisboa, cosmopolita, capital do mundo lusitano, o som de Pã de um amolador de facas.
Consigo traz recordações dos tempos em que, menina, brincava na rua com um bando de gente para quem o amanhã não existia e que largava todas as brincadeiras para acorrer ao encontro do mágico que amolava facas e consertava chapéus de chuva, qual MacGyver e cuja bicicleta nos parecia tão extraordinária como o carro kit.
O som vai-se esvaindo e fica a pungente antecipação de um tempo, próximo, em que os amoladores não serão senão uma reminiscência, um postal perdido num qualquer escaparate de velharias, ou uma ilustração num livro de velhas profissões.
É na cidade, mas podia ser na minha aldeia. Se, como o poeta, eu tivesse aldeia!
imagem: Genevieve Naylor,
Vida quotidiana no Brasil 1940-1943
disponível em boemiaenostalgia.blogspot.br
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