terça-feira, 21 de agosto de 2012

A despedida de José de Alemparte, de Paulo Bandeira Faria


Um homem idoso, septuagenário, a quem foi diagnosticado Alzheimer, doença que apenas vem sobrecarregar o fardo de viver separado da mulher que sempre amou e que lhe foi tirada pelo amigo com quem pretende reconciliar-se antes do esquecimento definitivo e que se decidea  escrever a sua vida como exercício de combate à perda de memória - sua e de si nos outros;

Uma criança de oito anos a quem o avô Xosé oferece um computador a troco do cumprimento da promessa de escrever todos os dias e que, para cumprir a tarefa, vai descrevendo o seu dia-a-dia e a leitura da vida dos que com ele convivem, numa leitura peculiar de quem vê o mundo despojado de erros, mas os intui e, de certo modo, os compreende e compreende a fragilidade escondida dos adultos «Se alguma coisa sei ao final de 3000 dias feitos é qeu não podemos deixar os adultos sozinhos, senão perdem-se» ;

Uma mulher atormentada por um passado que assombra de segredos o seu casamento que não a satisfaz; são estes os narradores da história de um grupo cuja vida se conjuga muito para além do que pudesse prever-se, e da História da Espanha do franquismo, dos traumas que deixou inscritos nas almas dos que a viveram ou lhe sentiram os efeitos distantes, mas muito presentes.

São estes os narradores de um livro muito belo - povoado de pessoas vergadas à cobardia dos seus sentimentos ou à coragem dos seus actos, sendo, uma e outros, parcelas de um mesmo sentimento - que conjuga narrativas de uma tristeza profunda pelo que a guerra, o medo e a incapacidade de esquecer provocam, com momentos de uma ternura infinita; parágrafos que apetece reler, reler, reler...


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